quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Som

Repete o som
A roldana noturna
Supresso sono.

Repete o som
Carro entrando
Corre a grade.

Repete o som
Roldana, grade, carro
Sonho de sonho.

Transcendência

Estou iluminada
Algo como vacinada
contra qualquer
Transcendenteísmo:

transcendi-o.


Ssa, 19/09/2010
- achado no caderno de matemática.


domingo, 31 de outubro de 2010

Ar caos

Arrumar: (est)ando a rumar.

Outr@s
rumos rimas rumos
vivendo, seguindo, buscando,

.....................................................respira:
>>um gerúndio em contínua ação

Incomodadesacomoda-R
NovaModaNova
................................roda

Rumar: arrumar, desarrumar, rearrumar

??????????????????????????????????????(há nada desnecessário)

//Ordem do caos./
Minha ordem.

/Caosordem.

Ar

O rumar sem fim-

se




quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Luto do Reconhecimento

Onde está a coisa que desejo?
Por ora não sei - e por isso vivo:
ser de meu ser, a busca.

Se encontro o que quero - que faço eu?
Nada, que não seja enfrentar
o luto do reconhecimento.

____________________________________

Escrevi, originalmente, em uma aula de italiano: (ainda não foi corrigido, deve ter erros de concordância nos pronomes!)


Luto dei Riconocimento

Dove stai, cosa que desidero?
Prima volta, non so - pertanto, vivo:
essere de mio essere, la ricerca.

Dopo incontrato, che faccio io?
Niente, mentre di caminare
per il luto dei riconoscimento.



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Translúdio em Sandman

Em uma visão, onde estava poderosamente (é, assim, quando tenho visões ao fazer amor), poderosamente transformada em Delirium, descobri onde e porquê Destruição se realizou e se consumiu e se evadiu de lá (...), e quando e onde Delight explodiu em milhões de cores e todo o resto não fez mais sentido único que pudesse ser simplesmente dito e ponto final.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sombra e luz

O Sol a pino;
A cor das sombras mudou:
É já setembro.
Antes que eu notasse,
Brilharam seus olhos.

Mentes de amantes

Para T.T., que sempre me inspira

Fica no quarto o vestígio doce de algum perfume, a joalheria esquecida na cômoda.
O amante alisa o lençol como se ela ainda estivesse ali. As nuanças das superfícies do corpo onde estivera pela primeira vez são convertidas em toneladas de adjetivos. Sua mente é inquietude e ansiedade.

Ai dela!

Mal sabe que já foi toda e completamente marmorizada, canonizada, incensada, tornada flor, gema, seda, óleo, metal precioso, astros e efeitos celestes, arvores nobres...Suas virtudes ao superlativo, seus dons ao infinito, sua origem feita divina, seus gestos coreografia, sua voz partitura, seus títulos à realeza, seu semblante um milagre grego.

Ignora, a moça, que será rebatizada - e ai dela, se não corresponder ao título, que seu amado tão amorosamente declara.

Mas! ele ainda tem dúvidas, oh, varão!, quanto ao galardão do fardo: nobre princesa ou divina estatuária?
Dulcinea ou Galatea?

...

A mulher não sabe o peso de sua imagem para um homem - uma armadura de ferro.
O homem, não supõe a dimensão desta imagem que ele vai esperar, idêntica, encontrar na mulher: o tamanho de um castelo, a profundidade de um labirinto.
Que a compaixão de Afrodite os devolva à vida!

sábado, 28 de agosto de 2010

Na alameda

Caminhávamos por uma noite de sábado, e um senhor bem velhinho exibia sua vitalidade. Seus passos trôpegos de bêbado. Suas roupas de elegância inglesa - para um rapazote do século passado, suspensórios e tudo. E a indefectível boina.
Ele pára, e com olhos educados, fita meu rosto enquanto avançamos. E discreto, meu busto. Não quer mais dançar a valsa dos ébrios em minha frente: gentil, olha minha mão enlaçada com a do meu namorado e - com fingida austeridade - proclama, indicador ao largo:
_ Isso vai dar casamento!

Presságio

Um casal bebe sakê frio,
em porcelana preta.
A noite está ruidosa.
É certo o fim do inverno.

O coelho de Dürer

Dürer pintou um coelho. Não há quem escape dessa imagem do coelho, ou lebre - que por ser tão caça, nos prendeu à devoção de uma aquarela perfeita. Tal qual o cordeiro de sacrifício dos judeus, que é vítima mas é senhor onipresente e onipotente. Dürer fez seu auto-retrato, com uma tal cara de Jesus, que achei de rir desbragadamente. Quando notei sua mão sobre o peito, vi que ele portava uma pele sobre o manto. Era Jesus, ou João Batista a quem ele se comparava?
Vi onde mais pude encontrar, textos que diziam do Império Otomano, e de quão pobres os judeus deviam por lá se trajar; mencionava o seu uso de forro de coelho, em uma espécie de manta ou casaco. A coisa da pele animal, crua, pouco elaborada, iniciática, como em João Batista - em oposição ao tecido de origem vegetal, fino e trabalhado por mãos humanas. A pele do bicho: Abel, e a veste fina de plantas, Caim. Se bem que Jesus trajava linho, mas enfim, vá questionar!
...
Oras, pensei então: o safado do Dürer fez um pouco como o Pequeno Príncipe, que tampouco escapa das mitologias da cristandade: ele, pois sim!, desenhou o coelho... para depois vestí-lo.
...
Queria ver ele se trajar de rinoceronte, ah, queria. Essa, ele deixou pro rei.

sábado, 21 de agosto de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Despensa

Hoje é sexta.
Olhem minha despensa
Verão fartura.
O frio não poderá
Se alimentar de nós.




Regras do jogo

...Leitores queridos,

Sou-lhes muitíssimo grata pela atenção, e mais ainda pelos comentários. Recebi um e-mail com uma dúvida/crítica que é deveras justa: conheço a métrica (aristrocrática) japonesa, tanto que cito o Man'Yoshu numa das postagens....É, sim, um excelente exercício se limitar às 31 sílabas - em nosso idioma, claro - se não me atento à elas é por não desejar ainda.

Logo, não reclamo dos puristas da forma: aprendi a amar o 5/7/5/7/7, e suas variações, e aconselho a leitura de nossos poetas de hai-kai, tenkas, shichi gosho e rengas, p.ex. Goulart Gomes, baiano como eu...

Abraços a todos!

Chá de inverno

Para G.
A água ferve devagar.
No bule do chá,
céu de puro cinza-luz
tinge a dança das folhas.


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sons do frio

Seu corpo me dá calor
Em plena chuva de inverno.
A torrente lá fora parece apenas
a sinfonia das cortinas.

Papel

A resma está intacta em sua embalagem.
Não sei se devo abri-la agora;
É tarde, e certas coisas
são difíceis de parar.

domingo, 1 de agosto de 2010

Camurça argenta

Pele de porco macia e brilhante,
de entranhas purificada:
sê cama para meu amado distante
e diminui sua estrada...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Luzes noturnas

A insônia não existe só na cidades.
A insônia vem também no interior,
pelas estrelas, corujas e cigarras
Pelo vento nas árvores e pedras.

É o que eu me lembro;
E hoje chamo "insônia perfumada":
as insônias de minha infância.

Na cidade, inundam-me as luzes vermelhas
dos carros, mas também dos prédios.
Luzes de evitar desastres,
Luzes de falar com aviões.

O silêncio não é o mesmo;
As luzes não são as mesmas:
Não há uma insônia igual à outra.



Transcendência

Quem primeiro desenhou
Sua própria mão à caverna?
Nas tecnologias de hoje,
Faz-se eterno quem nem (se) importa.

Do Rubayat

"(...)Venha, encha o cálice
e no fogo da primavera
A roupa de inverno
arderá de arrependimento!"

Omar Khayyan

Aulas de Italiano

Uma noite qualquer da semana,
Tenho aula até tal hora.
O trajeto de volta deixou
de meter tanto medo.

É o custume, dizem.
Mas um velho orientou, certa vez,
numa esquina em que me perdi:
"Qualquer lugar é perigoso."

Agora eu escolho, depois das aulas,
se me perdi no caminho de casa
- ou se estou refazendo
percursos em que nunca estive.




Do Man' yôshû

Poder transformar-se naquele orvalho envolvendo
todo o seu corpo
O orvalho no pé da montanha, no tempo em que me
aguardavas

Poema de Ishikawano Iratsume
volume 2, numero 108

Arquitetura

Foi construído um prédio com curvas.
Certamente fez muito sucesso.
Sua estrutura é horrível por dentro,
mas é como se isso não importasse!


Tempo

O copo está vazio.
Um carro freia na rua.
O chá não está pronto.
Como a chuva atrasa as pessoas!

Cobertor

Não parece tão tarde
Mesmo vendo as nuvens carvão.
Sem sono e sem você:
do cobertor o azul apenas.