sábado, 28 de agosto de 2010

O coelho de Dürer

Dürer pintou um coelho. Não há quem escape dessa imagem do coelho, ou lebre - que por ser tão caça, nos prendeu à devoção de uma aquarela perfeita. Tal qual o cordeiro de sacrifício dos judeus, que é vítima mas é senhor onipresente e onipotente. Dürer fez seu auto-retrato, com uma tal cara de Jesus, que achei de rir desbragadamente. Quando notei sua mão sobre o peito, vi que ele portava uma pele sobre o manto. Era Jesus, ou João Batista a quem ele se comparava?
Vi onde mais pude encontrar, textos que diziam do Império Otomano, e de quão pobres os judeus deviam por lá se trajar; mencionava o seu uso de forro de coelho, em uma espécie de manta ou casaco. A coisa da pele animal, crua, pouco elaborada, iniciática, como em João Batista - em oposição ao tecido de origem vegetal, fino e trabalhado por mãos humanas. A pele do bicho: Abel, e a veste fina de plantas, Caim. Se bem que Jesus trajava linho, mas enfim, vá questionar!
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Oras, pensei então: o safado do Dürer fez um pouco como o Pequeno Príncipe, que tampouco escapa das mitologias da cristandade: ele, pois sim!, desenhou o coelho... para depois vestí-lo.
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Queria ver ele se trajar de rinoceronte, ah, queria. Essa, ele deixou pro rei.

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